Inovação. A palavra de ordem no momento. Todo discurso progressista hoje, quer seja nas organizações, na comunidade científica, na economia ou na sociedade menciona repetidamente a mesma palavra.

E o que sempre acontece quando uma palavra é assim superutilizada? Como todo modismo, ela tende a significar tudo e nada ao mesmo tempo. O termo é usado indiscriminadamente para agregar valor, gerar impacto, avaliar resultados e acompanhar desempenhos. Surgem consultorias e capacitações para apoiar aos que desejam agregar este conceito novo às suas estratégias e comportamento. Afinal, ter uma vaga ideia do que seja parece ser melhor do que admitir desconhecer totalmente. Se você quiser uma dica de leitura para começar a entender o que é inovação, eu recomendaria a leitura do Manual de Oslo da OECD.

Por ora, podemos combinar que inovação é a habilidade de estabelecer relações, detectar oportunidades e tirar proveito (econômico ou social) delas. Mantendo nosso contexto nas organizações. Vamos refletir… Esta não é uma necessidade nova, não acha? A diferença é que atualmente vivemos em um ambiente com dinâmica cada vez mais acelerada, com maior amplitude e possibilidades de parcerias, relações e interconexões, abrindo espaço para possibilidades de negócio não pensadas com muito mais frequência. Russe Ackoff (1994), há 20 anos atrás, dizia que as organizações seriam bem sucedidas se pudessem mudar sua maneira de visualizar resultados, focando-os em sustentabilidade e não somente lucro, apostando em uma cultura interna menos hierárquica e estimulando o prazer e a criatividade.

Da literatura especializada no conceito de inovação (Tidd, Bessant e Pavitt, 2008), duas coisas parecem ficar bem claras. A primeira é que a inovação não é uma atividade oportunista, que ocorre por acaso. Ela surge da capacidade das organizações de estabelecerem ambientes internos que reúnam processos específicos de gestão de seu conhecimento, mapeamento de oportunidades de mercado, diálogo contínuo com o ambiente externo (principalmente sua clientela), geração de ideias, desenvolvimento e avaliação de produtos, um moderno suporte de marketing, uma grande capacidade de adaptação operacional em face a mudanças e uma mentalidade aberta e amadurecida para enfrentar riscos.

A segunda observação é a de que inovar não é um verbo a ser conjugado somente por um grupo seleto dentro da organização, de cujas mentes com capacidades brilhantes e alta capacitação técnica sairão as ideias, produtos e iniciativas que alavancarão a organização aos píncaros da competitividade local, nacional ou internacional. Embora deva existir sim um grupo responsável por estimulá-la internamente, a inovação é uma cultura a ser desenvolvida globalmente dentro da empresa. Dê uma lida no resumo que Felipe Scherer, da Innoscience, faz sobre as competências que precisam ser desenvolvidas para se inovar. A inovação só ocorre quando capacidades de questionamento, observação, trabalho em rede, experimentação e associação de ideias são combinadas com competências de análise, planejamento, detalhamento e auto-disciplina.

Destas observações passamos a nos questionar como a gestão de processos pode ser utilizada para apoiar as organizações a inovar. Fica claro que as demandas atuais por inovação afetam a gestão de seus processos organizacionais em dois aspectos fundamentais: agilidade e colaboração.

Agilidade. Para conjugar o verbo inovar, uma organização deve ser capaz de executar seus processos equilibrando controle de resultados e liberdade de execução. O ciclo de gestão de um processo, desde sua modelagem, passando por sua análise, mudança, implementação e análise de resultados precisa ser rápido sem deixar de ser eficaz. A agilidade na gestão de processos é chave para criar formas diferenciadas de funcionamento interno e administrar os riscos da inovação.

Colaboração. Inovar pressupõe o trabalho criativo, em rede, com cruzamento de habilidades e competências internas. A execução dos processos organizacionais em uma cultura de inovação exige que estes processos permitam aos atores estabelecerem conexões internas não previstas, trocar informações com facilidade, negociar novas formas de realizar tarefas, negociar formas e expectativas de resultados entre si e uniformizarem objetivos com foco em estratégias globais e não individuais. Inovar também significa envolver o ambiente externo na execução dos processos organizacionais, aumentar a transparência na execução de processos e manter uma comunicação contínua sobre expectativas, dificuldades, ideias e possibilidades, estabelecendo um ambiente de co-participação.

Se a sua organização quer ser inovadora, uma boa estratégia é usar a gestão de seus processos de uma forma mais ágil e colaborativa. Fica a dica.

Referências

Ackoff, R.L. (1994) The Democratic Corporation: A radical prescription for recreating corporate america and rediscovering sucess. Oxford University Press.

Tidd. J, Bessant, J., Pavitt K. (2008) Gestão da Inovação. Bookman. 3a edição.